segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"O perfeccionismo é para os derrotados"

Não há Mozart que serene a urgência de quem quer deixar marcas indeléveis da sua existência. De quem quer, como Maldoror, ser alvo de reconhecimento pelos maiores génios do futuro. Não há humano que assim não seja, em certa altura da sua vida. Ou, no pior dos casos, para sempre, deixando fugir boas oportunidades práticas na luta pelo coroar do romantismo puro enquanto forma de vida. Há muito de romântico nas ruínas do que se poderia ser e não se foi, escolhendo caminhos mais amargos, difíceis de compreender até por quem os trilha. Muitos se gabarão do desprendimento, outros do pragmatismo latente em cada acto seu, mas poucos são os que conseguem discernir e, mesmo em pensamento, viver ambas as sensações. Raros são, porém, os que encontram o caminho de volta. A estrada não tem fim…

O dilema do queijo da tosta mista aplicado ao misticismo das sociedades modernas

Fazer tostas mistas com pão de forma sem côdea é o melhor exemplo de como pode funcionar uma sociedade sem regras. Podemos saborear um manjar de fácil deglutição, mas não temos forma de suster o vazamento de queijo derretido.

Este facto leva-nos à já muito discutida presença do estado no quotidiano dos cidadãos e até que ponto este deve interferir nas suas vidas, tomando de assalto o poder decisório que, por natureza, lhes assiste. Já muito se falou, em Filosofia, naquilo que é a vida e, para alguém, que, como eu, acredita que o máximo poder pertence ao Homem, a vida é uma sucessão de escolhas. Todos os dias nos deparamos com uma multiplicidade imensa de caminhos a tomar, não raras vezes díspares, e, no fundo, escolhemos o caminho que, na altura, e com todos os constrangimentos que advêm do factor surpresa, mais nos apraz ou nos garante mais segurança no alcance de certos objectivos. Mas, se alargarmos a análise, deixando de nos centrar no Eu e passando a observar o Nós, reparamos que dada total liberdade de escolha a todos os indivíduos cedo qualquer sociedade atingiria o ponto de ruptura, com as escolhas de uns a inviabilizar, não só as escolhas, mas o poder de escolher que, no caso, seria garantido a todos os outros.

Perante tamanha desordem, o Homem desde cedo implementou sistemas organizacionais com vista a gerir, racionalmente, o funcionamento das sociedades. Omitindo uma lição de História que desconheço, chegámos, rapidamente, ao século XXI, à democracia, à corrupção, à crise do final da primeira década e ao inevitável extremar de posições, típico num cenário socioeconómico limite, este, em que até os mais apáticos e desatentos decidiram acordar para a política, assumindo posições extremas, ora à Esquerda, porque a culpa é do capitalismo e todo o Homem ocidental é um boneco no tabuleiro de meia dúzia de multimilionários, ora à Direita, porque isto está como está devido à abertura das fronteiras, à falta de emprego para os nativos, à criminalidade…ora, não me parece que qualquer uma das duas opções seja boa para o meu queijo. Afinal, se de um lado o queijo escorre, do outro lado o queijo nem chega a derreter, tamanhas as muralhas. Sim, o ponto de equilíbrio existe. Se é totalmente eficaz? Não, mas nenhum o é.

Algo próximo daquilo que é o conceito contemporâneo de Estado Mínimo Neoliberal a descair para a Direita, assente nos conceitos de Estado de Direito, regulamentação e fiscalização. No fundo, a intervenção do Estado deveria limitar-se à fiscalização permanente dos mercados, à garantia da segurança dos seus cidadãos, através de um código penal pesado e forças policiais capazes e, mais uma vez, boa fiscalização, antecipando a acção, prevenindo antes que catástrofes ocorram, como, por exemplo, identificando possíveis focos de instabilidade social. Caberia ao Estado garantir que os seus cidadãos tivessem um serviço de saúde capaz de os servir satisfatoriamente, assim como um sistema de educação onde seria privilegiado o mérito em detrimento da quantidade: jamais haveria programas de incentivo ao regresso à escola para pessoas que não o desejam ou qualquer tipo de remuneração para estas, jamais alguém transitaria de ano sem que para isso tivesse as competências necessárias, jamais se constrói um país forte assim. Quer na saúde quer na educação haveria espaço para a actividade privada, assim como nos demais domínios, cabendo ao cidadão escolher. O Estado abster-se-ia de atribuir subsídios indiscriminadamente, sem uma fiscalização capaz, a exemplo de subsídios ao nível da agricultura, do desemprego ou do porque sim, já que não há forma de explicar a maioria dos apoios monetários de inserção social. Não consigo falar nisto sem recordar uma passagem da FMI de José Mário Branco: “"até neste país de pelintras se acha normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar".

Não seria de fácil implementação, este regime, se assim lhe pudermos chamar. Teria, por certos, muitos erros, muitas fugas de queijo, outras tanta partes demasiado duras. Mas acredito que, com a força das pessoas, com a liberdade na dose certa, ou mesmo, e sem ironia, com “seis meses sem democracia”, ia ser tudo muito mais justo, competitivo e confortável.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lição de Voo nº. 3

"Não! Primeiro, porque não tenho o talento e as qualidades que um primeiro-ministro deve ter. Segundo, porque ser primeiro-ministro é ter uma vida na dependência mais absoluta de tudo sem ter tempo para nada. É uma vida horrível e que eu não desejo.",
José Sócrates à revista DNa, Setembro de 2000

É assim que começo. Porque também mudei, não apenas de palavras, sem querer insinuar nada, mas, e sobretudo, de interesses e forma de ver o mundo.

O despontar deste novo blog marca o despertar em mim de uma crescente necessidade de voltar a escrever com regularidade, espero, mas também a confirmação de que tal não faria sentido em sede de antigos diários, virtuais. Lá moram relatos e, acima de tudo, conclusões de outras viagens, de outras paragens, de outras canções, de outras vidas, minhas, nunca esquecidas, mas que jamais voltarão. Virar de página não tem, necessariamente, de significar esquecer coisas más, exorcisar demónios ou, em casos mais remotos, empurrar os fantasmas de volta para o gavetão do fundo. Neste caso particular, o virar de página, é somente o fechar de um ciclo, de uma fase maravilhosa da minha vida, como aliás todas as que a precederam, é o culminar da consciencialização de que sou uma pessoa diferente, cujo espírito se alimenta de momentos com outros aromas. Não fazia sentido escrever por cima, abra-se uma nova página...